terça-feira, 27 de dezembro de 2011

[Liberta-me a voz]




Liberta-me a voz de mim,

e que o silêncio, invada a parte
mais escura
do luar.

Nas mimicas contínuas do abraço,
do beijo,
ressuscitam os olhos fechados,
absorvem algumas pétalas de prazer
mudo,
nem o grito ao longe,
nem o sussurro aqui tão perto,

interrompem o nascer
de novas orquídeas brancas.

Desejos refletidos por este rio,
acima,
que do mar se pensou nascer,
um dia.

Liberta-me do pensamento de ti,

e que o sonho se interrompa,
e que se afogue na corrente,

e que as cores amanheçam.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

[foge-me o canto da cotovia]






Nestas imensidões que se apelidam de vidas,
foge-me o canto da cotovia,

abriga-se na copa de uma árvore,
moribunda.

Antes de tudo, o tempo que vagueia,
depois, as viagens
que como um raio passam,
e passam, e eu

deixo-me ficar, alterando espaços,
imensidões, em algumas constantes
desconhecidas.

Regalam-se os olhares, despertos,
dispersos,
uivam alguns lobos em alcateia,
o autólico vagueia só,
quer-se só,
alimenta-se só,
mas quer-se por perto.

Da salvação não escrevo, nem como
consequência,
quero-me despojado, sem as vestes
que me aprisionam, condicionam.

E,
algumas estrelas que morrem,
são sepultadas, nos desertos
dos homens,
nesses desertos sem fim,
sem princípios.

Lydia the Tattooed Lady

[querem-se os lábios despojados]

...
desnovelam-se as madrugadas frias,
nas árvores sem folhas,
resiste a amendoeira em flor,
onde morcegos se aconchegam
no raiar escuro do sombrio dia.

O vento toca levemente
nas cores desbotadas pela chuva,
em algumas tristezas,
em algumas alegrias.

Breve o dia, perdem-se as horas
sem tempo, ainda longe a tempestade,
perto as pedras que piso distraído,
e fugimos os dois da lembrança
de um beijo tímido, que os olhos fechados
sentiram voar pela imaginação afora,

querem-se os lábios despojados
do sal do mar.

Não me ofereças o mel,
planta-me as abelhas no jardim,
perto das videiras,
e liberta os cavalos alados, que um dia
regressaram sem pressa,
num murmúrio das nuvens da
primavera.



[Beija-me então, novamente...]

Ramones with Eddie Vedder - Any Way You Want It

domingo, 25 de dezembro de 2011

[- Perdoa-me, apenas te amei!]




requieto tal o réquiem de um defunto,
como se assim o desejasse
neste odor da terra úmida,
neste perdão desfigurado do orgulho
aprisionado numa teia de armadeira.

Ajoelho-me a teus pés, curvando a cabeça
como condenado sem piedade:
- Perdoa-me, apenas te amei!
...
- Apenas te sonhei uma noite, num dilúvio
onde o mar tudo salgou, tudo purificou.

Acordo-me na suavidade da bonança,
[breve a bonança...],
ainda sinto o teu cheiro maresia,
ainda vejo a tua pele canela,
ainda toco na tua sombra:

- Perdoa-me, apenas te amei!



[...poesia]


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

" La Folie... sempre me lembro de ouvir o mar..."



Sempre me lembro de ouvir o mar”, como se as margaridas estivessem sempre presentes,
 naquele ondear tão suave,
 tão meu conhecido das marés,
 e os cheiros de novo brotam alguns ainda desconhecidos irrepetíveis como se nestas coisas de sonho da realidade,
 se encontrassem alguns caminhos
sem regressos anunciados das saudades,
 prefiro sempre os sossegos de algumas nuvens tapando astros escondidos algures na aurora boreal que emite espirais sem um final definido
 nas loucuras de um bêbedo
 sentado num degrau sujo,
 vomitando bílis, rindo
 da garrafa vazia,
...
e parte-se o vidro na rua deserta estilhaçam-se algumas estrelas que implodem mas que ficam visíveis numa eternidade que quero pelo prazo de uma vida,
 revolta na revolução do pensamento
 no sentir, que senti algures
 numa breve pausa
 nem breve o instante,
...
apenas o tempo de um raio de uma chuva de meteoros que jamais se esquece iluminando a escuridão nos clarões contínuos de um fogo fátuo boitatá que se dizia dizimar o índio,
 estória na noite dos trovões,
 esperando a rododáctila,
 numa rosada mão aberta,
...
afugentando todas as trevas,
 pesadelos,
 afugentando o autólico que irrompe das masmorras destecendo os temores que se querem seguros sossegados enterrados na lava,
 lava que irrompe do fundo do mar,
 construindo maremotos
 que tudo tapam sem misericórdia.
...
Sempre me lembro de ouvir o mar”
 numa ilha deserta, exuberantes os silêncios
 parados em tempo eterno pelo horizonte,
 parindo palavras no areal sem fim,
 lavadas depois
 pelas águas,
...
nas fúrias de um furacão.
 ...
(breve o instante... breve a loucura...)





Nota:

Sempre me lembro de ouvir o mar”, frase com que começa o livro “O Caçador de Tesouros” escrito por Jean-Marie Le Clézio prémio Nobel da Literatura em 2008

Em 1560, o jesuíta José de Anchieta descreveu assim o fogo-fátuo:

Junto do mar e dos rios, não se vê outra coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente acomete os índios e mata-os”