sexta-feira, 20 de julho de 2012

[ … por vezes não sinto o que sinto

Pôr-do-sol, Monte Everest, Foto Cory Richards/National Geographic

por vezes não sinto o que sinto,
tento esquecer-me.
Esperguiço-me num mar chão, ondula-se o corpo
que voga pela mansa maré,

como se para sentir tivesse de saber, ser,
ser-me-ei apenas, tão longe tantas as vezes de mim,
ser-te-às assim, tão perto tantas as vezes foste de mim.

Quando o nosso sangue estremecia,
e o grito trespassava as paredes amarelecidas pelo sol de verão,
um corpo único metamorfoseado
renascia da promessa, da saudade,
das despedidas que sangravam pelo outono,

[… verão mar, outono terra …]

Que eu me esqueça da poesia que nos cobria,
que eu me esqueça de sentir o que sentia então,
que seja profecia também,

mas,

que no final da rota inversa que seguimos,
as mãos se voltem a tocar, sem tempo,

[… mar terra …].




[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]



terça-feira, 3 de julho de 2012

[ … e tantas foram as manhãs que me escureci

            Cordilheira dos Andes, Chile, André Kuipers/Nasa

e tantas foram as manhãs que me escureci
sem me amanhecer,
cousas que me habitavam, promessas fossem,
da sede que não se estancou, arribaram-me desertos.

E se por um beijo teu que fosse,
Mesmo estranho e provisório,
mesmo nesta vida que jamais me modificará,
Me desabitasse de vez,
Haveria de me lançar do promontório
Que um dia desafiei. Cumprir-se-ia silêncio.

Cessar-me-ia.

E tantas foram as noites que não presenciei
O teu sonho interrompido.




[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]