sexta-feira, 24 de maio de 2013

,os ecos teimam em repetir-se


,languidez atroz que me invade,
arrebatado nesse êxtase sem fim,
arrebatando o ar acima do orgasmo
onde a ideia de paraíso é apenas um apoio,
um salto soberano,
num vai e vem, como a galope num cavalo louco.

(I)

sinto agora o tudo, sinto agora o nada,
o grito que trespassou a parede, desfazendo o concreto,
ainda ecoa cada vez mais longínquo,
encabrita-se, rosna, vocifera, já quase em silêncio,

corpo sem tino,
corpos apenas acéfalos, pele rasgada
sem piedades, por desejos,

procuras, encontros, penetrações, ou almas
purificadas pelo octógono batismal perfeito,
renascendo, recriado-se,

quando os portões de bronze se abrem instantaneamente.

(II)

,os ecos teimam em repetir-se,
as tatuagens eternizam-se como asas de borboleta
em flor,
rosna a besta pela escuridão que se dispersa,
desinteressada no nascer das cerejeiras pelas margens
algures despovoadas, antes vida, antes mar,

para alguns um inferno nenhures.

,não sei sobre o que escrevo, não quero,


enquanto a garrafa se esvazia,
a súplica é balbuciada, gaguejada:

- dá-me o teu êxtase, tatua-o junto ao meu.

[,o refrão repete-se despojado do pejo;
procura e encontrarás], enfim.


(III)

Em fim, o início que seja.








quarta-feira, 22 de maio de 2013

,empurra-me de uma só vez

Jamais poderia esquecer Pearl Jam a tocar Sitting on the dock of the bay de Otis Redding

,empurra-me de uma só vez

vocifera a besta agrilhoada, oprimida em si,
dejetos de um sonho mal parido, lá fora
a tempestade invade todos os areais, aprisiona-os.

,apesar do feito, como se isso importasse,
do outro lado, o cheiro das cerejeiras em flor
assume toda a foz do rio, que se faz mar.

,pensei-te em seda, em mirra, ou ave,
quis-me crente em silêncio cuspido,
ou sombra estática disforme, quis.

,dos deuses que fogem amedrontados,
restam os rastos, rastejantes,
como se o amar fosse proibido.

,de nada sei, de nada saberei desta vida
longa, despida de sinais, de rotas,
de palavras relembradas, sem uso ou tino.

,afugenta de mim esse medo sem nome, esse destino sem fim,
e conta-me, outra vez, a história das miçangas feitas corais,
e canta-me, o eterno azul dos ocasos, que a ondulação leva arriba.

(I)

,empurra-me do cimo das falésias, de nada me serve este corpo,
ou fuga, empurra-me de uma só vez,
tudo é apenas uma perca do tempo.

(II)

[,perambularei por mais uma maré afora até a quilha se afundar].







sábado, 4 de maio de 2013

,já nem sei ou desejo saber


,talvez quisesse sentar-me apenas no soalho,
sim, seja.

(I)

, [alguns] homens são como cantos mal arrumados,
símiles ao cantar da cotovia,

, [algumas] mulheres escondem-se em varandas esverdeadas
sem flores,
como as cinzas auroras do outono,

, esqueço-me de algumas palavras como dos brilhantes perigeus,
ou dos nebulosos apogeus,

peregrinações, apenas existir, ser, ir,
,já nem sei, ou desejo saber.

(II)

,opróbrios desgarrados quais anjos que esvoaçam
pelas rajadas do vento norte, desfazendo asas,
quais pássaros loucos

desfazendo sonhos que se arrastam,
vagarosamente, até adamastores escondidos,

indolentes benfazejos,
fazem-me rir da alva inexistente, da súplica

que antecede procelas no meio do mar,

sem medos das lembranças.

(III)

, há [alguns] homens que fecham as portas com trancas,
, há [algumas] mulheres que abrem o peito despido de pranto,

e sorriem, e os arrepios sucedem-se,

dirás; “quão suave o som da noite sem silêncio”.

(IIII)

,existiremos então?
[já nem sei, nem desejo saber].







que seja um texto de Francisco Duarte