Domingos
Fernandes
...
em
tempos de trovoadas
cumprira-se
tudo, sem êxtases,
e
depois falava-se do universo,
simplesmente,
como
se os mistérios da implosão fossem tão difíceis de entender,
maiores
que os do fundo do mar, descansos internos,
por
prescrições esbanjadas sem ritmo,
música.
Enormes
gritos sufocados pelos amares distantes,
onde
o odor das alfazemas persistia eternamente em coro,
repetindo
refrões;
“tenho-te
em mim quão perto este mar ,
saber-te-ei
sempre, mais uma maré além”,
éramos.
Do
corpo morto de melissa nasceram abelhas,
sobreviveu
um poema,
e
perco a razão por entre as frestas das janelas entreabertas
sobre
um horizonte encrespado, sem destino,
sem
sentido o que as palavras escondem a cada baloiçar,
que
tu chamas de navegar.
Nem
dos meses por onde regresso,
me
recordo,
adernando
a estibordo a madeira apodrecida,
nem
do tombar da noite pelo avivar de um único reflexo.
[quão
perto do outro estou que me quedo],
finalmente,
dirás.
Bífido.
Nota:
Melissa,
era sacerdotisa de Deméter e foi iniciada pela deusa em seus
mistérios. As outras sacerdotisas quiseram que ela lhes revelasse o
que tinha visto. Mas tendo Melissa se recusado, foi despedaçada
pelas companheiras. Como castigo Deméter enviou uma praga à cidade
e do corpo da morta fez nascer as abelhas.