sexta-feira, 24 de abril de 2015

••• [Poemas sem título ou a breve mão que sangra desinteressada pela noite que a vinha fechar]

Nuvem de gás Gum 29 (Hubble 25 anos)

a mão que te embala é a mesma que te acaricia
o seio
que te masturba depois

e enquanto se encurva o ar pelos promontórios abruptos por perto
removem-se uma por uma as pétalas desfeitas
em corpos que suam desamarrados a estibordo como se me importasse
o sangramento que a língua quer interromper.

Sangro-me arrefecendo as águas mais a sul
ígneas

arrancadas as linhas horizonte do nevoeiro imaginado
mais intenso e inenarrável. Ambos sabemos que o sol não nasce

numa casa fechada desabitada sem janelas
nem por um milagre rosáceo
e
se os dias demoram a chegar o fogo inicial arrefece repentino
vergado pelas nortadas desfolhadas. Alguns homens morrem

pelo cantar da anêmona errante e lúcida
sem habitarem o terraço que construíram abrigo das chuvas e do sol
a pino. Apenas um grito extremo que se repete como o areal inundado

tudo recomeça.

Mergulho-me em ti pelas veias abertas
recebes-me sossegando esta minha ânsia despojada
ilimitada
enquanto semicerras os olhos desintegrando-me nesse teu manto
azul de água. Assim


tudo recomeça.


(Ricardo Pocinho - O Transversal)