Nuvem
de gás Gum 29 (Hubble 25 anos)
a
mão que te embala é a mesma que te acaricia
o
seio
que
te masturba depois
e
enquanto se encurva o ar pelos promontórios abruptos por perto
removem-se
uma por uma as pétalas desfeitas
em
corpos que suam desamarrados a estibordo como se me importasse
o
sangramento que a língua quer interromper.
Sangro-me
arrefecendo as águas mais a sul
ígneas
arrancadas
as linhas horizonte do nevoeiro imaginado
mais
intenso e inenarrável. Ambos sabemos que o sol não nasce
numa
casa fechada desabitada sem janelas
nem
por um milagre rosáceo
e
se
os dias demoram a chegar o fogo inicial arrefece repentino
vergado
pelas nortadas desfolhadas. Alguns homens morrem
pelo
cantar da anêmona errante e lúcida
sem
habitarem o terraço que construíram abrigo das chuvas e do sol
a
pino. Apenas um grito extremo que se repete como o areal inundado
tudo
recomeça.
Mergulho-me
em ti pelas veias abertas
recebes-me
sossegando esta minha ânsia despojada
ilimitada
enquanto
semicerras os olhos desintegrando-me nesse teu manto
azul
de água. Assim
tudo
recomeça.
(Ricardo Pocinho - O Transversal)