quarta-feira, 3 de abril de 2013

,noites, porque não dias inacabados?




,lava-me as mãos
como a um judas,
ou satanás que seja,

mas deixa os meus lábios secos, gretados,
como a terra que hoje calco,

fala-me da voz em gritos, da praia que se perde
pela foz,
a sul,

neste nordeste de hoje, à míngua, à fome,

reduz-me, sem inspiração, ou tino,

ou verve,

à vista um farol que não existe, que definha,
e que se esconde pelo mar,
cousas assim,

negações, tantas tormentas, alguns sonhos
encrespados,
suores,
noites, porque não dias inacabados?

,e relembro-me das cinzas, dos incensos,

das vertigens em pétalas vermelhas,
sangue,
das palavras que fogem, morrem
ainda no ventre,
afogadas, pisadas por outras maiores,
e fui por aí, ultrapassando horizontes como um cometa louco,
símile a um cavalo

com o freio nos dentes, rangendo,

repara nos nadas que cercam as margens,
tanta a inundação, as vísceras
inchadas,
os visos enrugados sem unções, sem viços,

que os vícios não resistam, nem se acobardem,
promete-me,
a oliveira, a mirta, o alecrim,

o verbo,

mas rasga-me os fragmentos
desta rododáctila saciada
de regressos sem trevas,

sem as porras das sombras enfileiradas,

reconstruo o outro que não me larga.

(I)

E canso-me do páramo, do firmamento,
do ocaso,

destes círculos cortados pela metade,
das viagens que se prometem sem finais,
tantas as miçangas guardadas
tantas as cores que me acorrentam,

que depois fogem sem deixar traço,
perenes as peregrinações,

não há viagens sem final,
nem provectos começos,

perguntar-te-ei por um mar de sargaços,
por um adamastor escondido, em fuga
dirás,

ou pelos crepúsculos que me ardem
a memória,
quão perto dos pássaros que regressam,

senti-los-ei sem carícias,
enquanto a sica me penetra no silêncio.

Digo-te, lava-me apenas as mãos,

e deixa-me sonhar com as sílfides
que me empurram,

assim,

tão perto de tão longe.

[nós mesmos].






Textos de Francisco Duarte

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