sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

[do Naufrágio, diz-se]



Rasgam-se as velas,
como albatrozes voam mais alto,
mais longe,
e do vento que refresca
se amaldiçoa se teme desconhecido
além-mar,

desfazem-se sonhos uma vez criados,
pesadelos que se reúnem num circulo
de deuses irados, sombras
de tão salientes os bojadores,

cantam anjos negros, diz-se,
e as baleias submergem.

Gritam-se suplicas,
das promessas e das piedades
enfeitam-se os mastros, que rangem
como uivos do lobo negro enquanto
se despedaçam engolidos
pelas ondas sopradas a norte,

sacrificam-se no mar os homens,
agarrados a nadas, as redes
enrodilhadas de tanta
riqueza antes saqueada,
aprisionam os corpos que mergulham
sem regresso.

e quando o que resta de madeira
se desfaz contra as rochas,
laminas afiadas como lanças,
fecham-se os olhos
tudo escurece de vez.

Boiam os restos dos orgulhos,
da pilhagem,
na alvorada que raia,
as baleias voltam a emergir,
sonolentas,
dos anjos negros nem sinal, diz-se,
os que sobreviveram quis o mar
clemência,
olham infinitos.

Uma mulher chora, deitada no areal,
o mar que tudo lhe deu,
o mar que tudo lhe tirou,
acaricia-lhe o corpo.

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