…
e se o inferno fosse um sitio
frio e gelado
nas profundezas de cada um?
…
e se o inferno existisse mesmo,
e se algumas vidas fossem os infernos?
…
Nenhuma visão apocaliptica nascia,
nem mesmo no horizonte da maré,
[o mastro rangendo, como que anunciando quebrar aos sopros fortes do vento de norte, sustinha uma vela enfunada],
bajulavam-se deuses sem fim,
alguns carnais, outros invenções,
do esforço se falava,
queriam os homens alguma paz,
como se depois da morte,
uma luz revelasse sossego,
perdão da morte, sono talvez.
…
De tantas guerras percorridas,
de tantos amores perdidos,
de tantas ilusões desfeitas,
juntavam-se heróicas cicatrizes,
[que o corpo guardava, quais medalhas, condecorações de sangue sugado a outros, aos mais fracos, alguns indefesos, e],
do temor pela tempestade,
cantavam escondidos nas núvens
invisiveis anjos e arcanjos nús,
…
a venda da justiça caíra.
…
Nas cartas de amor lidas, relidas,
ficavam os odores da canela, das
flores silvestres,
[restava a lembrança da noite onde o suor dos corpos impregnava a cama de cetim carmesim, labaredas sem faces visiveis],
sem faces visiveis.
…
Renasciam as piedades,as preces,
renascia o medo do além,
teme-se o além-mar.
[
dos sofrimentos deixados para trás em outros corpos que vagueiam sem
rumo, se esqueçem os homens, imploram piedade com um sorriso.]
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