Não
te vou escrever sobre o calor,
Ou,
Sobre
a seca que greta a terra como a pele
Das
gentes,
Ou,
Sobre
as misérias que avisto,
Da
minha janela gradeada,
Onde
o mar nasce pelas manhãs,
E se
esconde quando o vento abana cajueiros.
Não
sei de muito mais,
Nem
dos verdes campos onde corríamos em crianças,
Ouvindo
o longo canto do sabiá, pela primavera,
Dizia-se.
Relembro
as partidas, as curtas despedidas,
Sem
lenços brancos dançando ao vento,
Ou
lágrimas dançando na escuridão,
Soltam-se
as saudades de um dia,
Repreendendo
a nostalgia das imagens ou dos cheiros
Que
se escondem pela memória,
Regressando
pelo crepúsculo sem fim.
Falar-me-ás
do destino, insano destino que tudo cobre,
Como
o pó acumulado nos móveis apodrecidos,
E das
preces repetidas em procissões intermináveis,
Acreditando
que tudo estava descrito, algures.
Calar-me-ei,
contando as injustiças dos homens,
A
pobreza forçada do ter e jamais do partilhar,
E,
Enquanto
viro as costas aos nevoeiros
Que
tapam a canícula abrasadora,
Sonho
horizontes longínquos que um dia
Levaram-me
para longe de ti.
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