terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Há quem se despeça deste Mundo que não é seu


Há quem se despeça deste Mundo que não é seu
Caniço afastando-se do deserto Soprado pelo
Vento quente Nem todos conhecem os quatro cantos
Cardeais
Apenas precipícios Silêncios

Se me velares partirei em nova viagem
Talvez pela Noite não sei Sem o perfume dos lírios
Ou do sabor das amoras pelos lugares que me habitam
Desnudam
Sem piedades sem sombras de artifício maior
Confesso-me despojado de paixão pelas maresias
Brotando nas minhas costas caladas impessoais

Rasga-me a memória Mar sem gritos perdidos
Fossas profundas escuras inventando Horas
Desabrigadas espalhadas por lado nenhum

Apenas me adormeço persistindo nos Vazios

Ocos.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Aproam pelo sotavento algumas violetas nos vales adormecidos


Enquanto esqueço as palavras por esses mares desconhecidos,
Aproam pelo sotavento algumas violetas nos vales adormecidos,
Ou em silêncio, como dirias, colhendo as sombras
Que um dia se afundaram sem despedidas.

Enquanto se aproximam ondas gigantes que tapam horizontes esquecidos
Ou desconhecidos,
A Preamar limpa pegadas que ficaram esperando
Os regressos das primeiras chuvas

Sem sinais [regressos de alguns retornos]

Cansam-me as chegadas, repetidos os soluços,
Repetidos os gestos das gentes, os nossos.

É na praia que adormeço profundamente, sem sonhos,
Enquanto longitudes se despedaçam pelos primeiros ventos norte,
Falar-te-ia das viagens, do ranger da madeira Apodrecida,
Ou dos gritos de pavor de homens heróis por uns minutos,
Enquanto o choro das mulheres de negro inundava areais desertos,
Apenas espuma, apenas ondeares, apenas cinzentos.

Liberta-me de ti por esta única vez,
Enquanto a âncora é recolhida e me faço ao mar
É tempo



Como ondas do mar, esperando pelos passos,

Sem Poesia.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

quem pintou vielas de negro esqueceu a nívea espuma ondulada pelo mar


Que carregam passos insensíveis
Pelas sensações terminadas num primeiro orgasmo silencioso
Súbito pela noite soprando o dia?

distraem-me essas cousas
destinos sejam sem a morte por perto
ou desfalecimentos
espreitando alvéolos de colmeias desertas
secas pelo pó esvoaçando invisível ardil de portas entreabertas.


fronteiras descartadas solidões tênues.

não te iria escrever dos vendavais Descrever
ventos despenteando sombras amontoadas
protegendo-se incólumes

talvez defesas talvez redenções

mas pelos cantos concentram-se perfumes invadindo os corpos esgotados em cada
poro por cada respirar.

carrego mares calmos inseparáveis gêmeos
que deixaram de uivar
jamais domesticados como eu

quem pintou vielas de negro esqueceu a nívea espuma ondulada pelo mar.

invadi-me repentinamente no Mar
[evadi-me propositadamente de mim Ou


assim fosse].


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Repetidos encantos de Musas cegas tateando precipícios


Habito-me por este corpo sem portas ou janelas
Repleto do cheiro das maresias escondidas esvoaçando
Quais gaivotas famintas procurando peixe junto aos barcos
Colados no horizonte que se emudece a cada vaga Anda

Imagens Espalhadas pelo soalho em madeira
Defasadas do tempo onde se encerravam tempos sem fim
Ou dias ainda distantes das noites que jamais morriam
Repetidos encantos de Musas cegas tateando precipícios
Em nevoeiros ímpares escondidos em cada canto dos corpos
Que as dunas cobriam Aqui diante de mim

Destinos Que me iludem Afinal de que serve a pontuação
Se nem se assemelha ao dedilhar de uma guitarra?
Desfado

Quando quero desabitar-me da pele que me Transporta
Ouso abrir as asas que me tapam pelo inverno
Que se diz de interminável como o vento onde Tropeço
Sempre


Leva-me ao longo da margem do mar que se estatela por essa Terra sem fim da qual Já Não faço parte do mundo Anda



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

,estilhaços, desaparecem incólumes os fogos


,e estilhaço-me pelas sucessivas vagas em que repito algumas palavras silêncio sombras areais ou mesmo mar sem saber ao certo o que me leva ao arrepio de outras tantas falas nem tudo o que se escreve é a língua dos poetas nem tudo é porque escasseiam os tempos
e sobram os tempos de subir as montanhas que escondem as orquídeas brancas pelas trilhas das pedras em círculos como caminhos desconhecidos bafejados pelas nortadas em redemoinhos
e mesmo que o corpo que se arrasta atinja o limite nunca é chegado o tempo de parar sossegar adormecer ao som de uma velha música repetida vezes sem conta como se uma partida fosse um dado eterno sem regresso talvez me morra pelo sono mas
nunca é altura para se fazerem as mudanças nem sentir as breves sensações de outrora e fala-se de vulcões furacões como danos colossais de loucuras breves e não sei onde a rota acaba se nunca começa ou se apenas se atrasa porque o deserto mar continua irado com os adormecidos adamastores ou musas bebendo vinho tinto com navegantes solitários num bar de cais desconhecido pela noite de invernias extremas
e caminho pelas águas que silenciam o uivar dos lobos os gritos tantos dias ensombrados pelas conquistas sem artifícios ou pelo cantar das nuvens carregadas de cinzentos querendo ver mais além desta cegueira que tende a ser apenas um cometa pelo breu do céu
estilhaços

,desaparecem incólumes os fogos

I

se nesse mesmo dia
um simples desejar
que seja o dessas palavras que rasgam poesia,
e que depois desaparecem incólumes,
visões,
sonhadores,
navegadores.

,aspiram eternidades poetas, meretrizes, mendigos, bêbados,
de nada servem as ruas escuras, as docas invisíveis,
ou as visões que acordam a noite.

,desaparecem incólumes, nas lamas dos cataclismos,
proteções, grades, e do barro se fazem as esculturas,
livres,
nessa liberdade que aprisiona,
aprisionou.

,dos pássaros que morrem em voo, se cantam odes ao mar,
apenas descansam nos cirros,
momentaneamente,
e a vista não os alcança,
jamais.

,desaparecem incólumes os fogos,
esqueço-me do ontem, propositadamente,
então,
sigo rotas imaginárias.

,desaparecem incólumes alguns pirilampos, diz-se
que adormeceram iluminando
a face visível do sol.

,seja dos tempos sem tempo,

seja-me a mim possível, apenas ir,

[tão somente ir ao impossível ir...].

,estilhaçando-me.


[,fim de um ciclo, apenas isso, dir-me-ás]



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

,os aljôfares esvoaçam repetidamente para longe



,é pela madrugada que as palavras se vestem,
assim que adormecem os jasmins prateados,
e tudo recomeça,

renovações dir-me-ias.

,o mar não tem as curvas como a estrada que começa,

possivelmente nem o amar,
nunca me disseste,

nem que a rota dos olhares trocados,

anunciava partidas tantas vezes proteladas pela ansiedade
das memórias desmemoriadas,

e,

se um dia me perdesse pelos labirintos do apogeu distante,
incertezas,

os ventos me guiariam pelas margens,
adentro promontórios vazios, avistando os teus luzeiros ainda acessos,

,incandescentes, aguardando-me.

, hoje ser-me-ia apenas o sorriso teu, algures,

por não querer viver intensamente esta vida
feita fado jamais se espraiando pelos areais distantes,
onde um dia apenas segui passos sem retorno.

,e disfarço-me sempre,
pelas tempestades apressadas sem silêncios, ribombando
nos espaços vazios,
tempo infestado dos nevoeiros meus.

Afinal, sempre o soube,
[ficou a face clara da lua pelo zênite].

,os aljôfares esvoaçam repetidamente para longe.
[repetindo-te]






Nota:
Aljôfares-
1 – Pérolas miúdas
2 – Orvalho, lágrimas (linguagem poética)


terça-feira, 8 de outubro de 2013

,e quero ver a tua face

Island of Lanai

,a heresia não satisfaz esta necessidade
quando algumas imagens se despem,

exaustas ou eternas,

e, quando as palavras as tentam descrever;
palavras, palavras, repetirás.

,despojam-se estes sentidos que nos atrapalham vogando pelo ingrato tempo parado por tantos vendavais relembrados, memorizados,

são como os cantares das baleias por alguns horizontes
desassossegados,
ou como ondas saltando a muralha antes dominadora, ressacas
incansáveis, invasões.

Fala-me do descanso,
das súplicas maiores que estes vãos destinos,
das brisas que encerram os ciclos de círculos contínuos,
que se escondem,

,e quero ver a tua face,
no preto e branco pela noite que nunca se esgota,
pelo tempo que não me diz nada,
muito menos as paredes que me cercam,

como uma súplica que se arrasta
entre as dúvidas e os desejos escondidos.

Que resistam os ventos dos sete mares,
as vagas repetidas, os mesmos olhares cruzados,
o desfraldar das velas pelo entardecer,


Rio-me dos paraísos,

[dos tantos apocalipses afunilados sem renovações,
promessas].


Ris-te dos invernos.



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

,são apenas silêncios, sem sons

IZA Photography 


,sim, é dos silêncios que te falo,
daqueles que nascem pelas madrugadas iluminadas
quando as andorinhas migram,

ou quando as pessoas renascem,

e eu,
renasço-me a cada novo dia,
e brilho, mesmo que ninguém me veja.

,são apenas silêncios, sem sons,
serão apenas sombras que se escondem e que reaparecem,
sabê-lo-ei,

sê-lo-á sempre assim,

mesmo que as procelas atinjam terra,
mesmo que os barcos inundem o areal,
mesmo que um dia,
todos atinjam o horizonte, mesmo ali tão perto
que nem se vê.

E conto-te,
hoje decidi morrer-me por uns momentos
[hoje decidi-me morrer por uns momentos],

quis que o céu se abrisse, que o vento cantasse pelas searas sem silêncios, nada de luzes, ou encadeamentos luminosos,

apenas o cheiro das maresias pela maré a vazar.


Descansei-me [e],




decidir ou morrer?


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

quão perto do outro estou que me quedo

Domingos Fernandes

...
em tempos de trovoadas
cumprira-se tudo, sem êxtases,
e depois falava-se do universo,
simplesmente,

como se os mistérios da implosão fossem tão difíceis de entender,

maiores que os do fundo do mar, descansos internos,
por prescrições esbanjadas sem ritmo,
música.

Enormes gritos sufocados pelos amares distantes,
onde o odor das alfazemas persistia eternamente em coro,
repetindo refrões;
tenho-te em mim quão perto este mar ,
saber-te-ei sempre, mais uma maré além”,
éramos.

Do corpo morto de melissa nasceram abelhas,
sobreviveu um poema,

e perco a razão por entre as frestas das janelas entreabertas
sobre um horizonte encrespado, sem destino,
sem sentido o que as palavras escondem a cada baloiçar,
que tu chamas de navegar.

Nem dos meses por onde regresso,
me recordo,
adernando a estibordo a madeira apodrecida,

nem do tombar da noite pelo avivar de um único reflexo.

[quão perto do outro estou que me quedo],
finalmente,

dirás.

Bífido.






Nota:
Melissa, era sacerdotisa de Deméter e foi iniciada pela deusa em seus mistérios. As outras sacerdotisas quiseram que ela lhes revelasse o que tinha visto. Mas tendo Melissa se recusado, foi despedaçada pelas companheiras. Como castigo Deméter enviou uma praga à cidade e do corpo da morta fez nascer as abelhas.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

os lírios voam sem destino jamais serão aves migrantes

Annalisa Albuzzi

desenraízo-me do mar e regressam à superfície os uivos e os gritos antes afogados destapando versos arrítmicos que jamais terminam de preencher as paredes um dia brancas,

ficam a boiar as sementes de papoula que as mãos antes
retinham,
por todas as estações em flor,

um longo adeus, apenas o olhar reflete a alma,
dirás.

Que assim seja,
o silêncio.

Dispersam-se as linhas do horizonte, inexplicáveis,
exaltam-se esconderijos do salso reino,
cantos perdidos a cada dia, espalhando-se como
murmúrios, sussurros, pragas
rompendo as redes de pesca que se afundam como a noite impenetrável,

acenderei santelmos no meio de nevoeiros que escondem os ventos de terra,

delimitando espaços,
buscando novas rotas, ou outras, tanto se me dá.

Ruem as foices do tempo pela matina,
sim, sorrir-te-ás,

que seja assim,
a escuridão.

[os lírios voam sem destino jamais serão aves migrantes...]



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

e tem vezes que não sei do mar

Leila Vasconcelos
...
por onde caminham os teus passos,
após um breve orgasmo tombado em silêncio absoluto?

Anárquicas as pegadas deixadas nos reflexos avivados do luar escondido por cirros cinzentos, amálgamas dispersas,

sem nexo,
temperadas pelo extenso e pálido olhar,

ou pelo odor intenso da maresia encabrestada
nos coros repetidos dos cascos de algum puro sangue árabe, louco,

e tem vezes que não sei do mar, de mim,
nem das alfazemas que brotam pelas margens escuras,
neste esquecimento forçado dos nomes que desfiguram as coisas.

Recorda-me dos pássaros que morreram a voar,
porventura em agonia,
enquanto te beijava repetidamente o corpo indefeso
escondendo as visões e as vozes que pululavam sem parar,
dos navegares outrora desconhecidos,
e,
evaporavas-te pelo fumo do primeiro cigarro,
borda fora, mar afora,
entre o espesso nevoeiro perto das escarpas que se escondiam pelas passagens do vento soprado por adamastores ubíquos.

Por onde te caminhas se os luzeiros se apagaram de vez?
O barco crepita ancorado,
abatido pelo relâmpago que se atrasou.

Atrasei-me.



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

poder-me-ei alhear das palavras por um dia

Laguardia Asensio Luis

...
poder-me-ei alhear das palavras por um dia,
do mar que não existe de tanto areal
que as dunas escondem,

restarão medusas, conchas, corais desalinhados,
ou aves que migram pelo verão, procurando novos pousos.

Abrir-se-ão janelas pelo sopro do cavalo do vento,
retendo caçadores de baleias agonizando pelo vazio
de redemoinhos,
e os rios, furiosos, engolirão carvalhos arrancados pela raiz,
como um bocejo,
nesse mesmo dia.

Falam-me dos lobos do mar, dos nenúfares que ficaram para trás,
dos silêncios que os ecos repetem sem parar, desses órfãos de ninguém
que acompanham as viagens intermináveis dos sonhos,
desse outro escondido entre as escarpas violentas das noites,
das procelas maiores que furacões,
nomes desfigurados.

Um dia poder-me-ia esvaziar de mim,
dos poemas rasgadas sem mar, sem barcos
no horizonte, sem estrelas anunciadores de terra firme,

das margens opressoras,
e, mesmo que tudo não passasse de imagens vãs, sem nexo,
nomes esquecidos, faces irreconhecíveis,
convulsões,

dir-te-ia das esperas pelo nascer da alvorada,

apenas te esperando.

Que apenas assim seja.



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

por mor que a distância seja

Kimberley Media Australia

É pela alba que as flores de jasmim sossegam,
mesmo quando revisito as pegadas deixadas pelo ocaso,

as chuvas de agosto que persistem no horizonte em chamas,

afugentam fotografias presas nas madeiras apodrecidas
pelo salso reino,
das fossas, antes profundas de tão veladas,
expõem-se algumas escuridões sem retrocessos suplicados,

desfraldam-se então as velas,
ao destino, como um fado repetido, gasto,

por mor que a distância seja.

Direi das travessias, das viagens,
do sextante sem arco do limbo, tocar-me-ás algures,
eu sentirei quão perto, de tão longínqua

a chegada.

Terei sempre regressos por cumprir, sem
jamais me arrepender,
de ter bebido até à exaustão do esquecimento.

Em vão.




domingo, 4 de agosto de 2013

e divago-me por ti

Ljubinka Lepojevic

Sossegam-se os dias pelas noites que se encerram nas imensidões de alguns cometas de tão longe. olha aquele e aqueloutro se esticares o indicador tens de te apressar antes que ele se apague se esconda por entre as cintilantes luminosas

algumas ondulações tocam como mãos a quilha de cedro já gasto ora arribando por ora em vertiginosa descida nas direcções de um vale de tanto mar e grita-se geme o barco antes do embate violento desordenado sejam feitas as breves vontades

e se um dia o sol se recusar aparecer não o saberei imaginar.

Solto-me do azul tão gasto pelo arco-íris,

não que a chuva o transporte até mim,
os ventos,
talvez o levem, além horizonte,

e, divago-me em ti pela noite,
que nada acrescentará à minha rota,

e, mesmo que a terra páre de girar por alguns instantes,

saberei sempre,

que os pássaros escolherão o mar, para descansar.

Resisto-me aos sossegos, às ondulações,
às recusas, aos gritos.
Resiste-se o luar em agosto.




Nota:
divagar - Vaguear; caminhar ao acaso; andar errante.


quarta-feira, 31 de julho de 2013

quando semeias os ventos

Luis Gonzaga

quando semeias os ventos

Quando semeias os ventos
que ondulam algumas searas adormecidas,

galopam cavalos árabes pelos areais distantes,
que se aproximam pelos sons em silêncio,

,e sinto-te mar,
quando me naufrago pelas palavras.

Observo o cansaço em vão,
visito botequins abandonados,
miro relógios parados sem irritantes ponteiros,
garrafas vazias, o vinho derramado

dos tempos infinitos findos e recomeçados,
distanciados de um cais a ruir,
redutores que sejam
nesses nadas sem significado.

Fala-me do grito dos lírios, das ruas e vielas,
dos rios que nascem do mar entrincheirados pelas margens.

Fala-me do outro que nasce neste eu moribundo.








sexta-feira, 26 de julho de 2013

senti-lo-à o tejo pelas partidas

Misheye - Christian Pearson Photographer Artist 

É pelas alvoradas adormecidas que me ausento,
ausências sem destino,

senti-lo-à o tejo pelas partidas, relembra-me.

E,
os atlantes que deveriam sustentar um céu de escuridões,
ouvem os sons das lágrimas,
tocando o seco areal que as marés cobrirão,
algures,

sem nexo,
sem mores esperanças que um dia,
algum dia,
as tágides voltem a cantar aos que regressam, regressa-me.

Saber-me-ei longe de tão longe,
como as aves que migram buscando os equinócios,
apenas um que seja,

apenas um que me aqueça e me farte em redemoinhos
aos pavores dos ventos, que calam os cometas, cala-me.

Silêncios.

Ruem sonhos, num rorejar farto pelo salso mar em azul,
e,

mais longe ainda,
algumas improváveis tempestades desabrigam-se pelo branco das janelas onde se pintam as tuas orquídeas, desabriga-me apenas por esta noite,

deixa-me ser o verso que treme.

Pudesse eu ser.








... senti-lo-há o Nilo
Pode-lo-há o Indo ver, e o Gange ouvi-lo”
(Camões “Os Lusíadas” canto XXXIII)