Misheye
- Christian Pearson Photographer Artist
É
pelas alvoradas adormecidas que me ausento,
ausências
sem destino,
senti-lo-à
o tejo pelas partidas, relembra-me.
E,
os
atlantes que deveriam sustentar um céu de escuridões,
ouvem
os sons das lágrimas,
tocando
o seco areal que as marés cobrirão,
algures,
sem
nexo,
sem
mores esperanças que um dia,
algum
dia,
as
tágides voltem a cantar aos que regressam, regressa-me.
Saber-me-ei
longe de tão longe,
como
as aves que migram buscando os equinócios,
apenas
um que seja,
apenas
um que me aqueça e me farte em redemoinhos
aos
pavores dos ventos, que calam os cometas, cala-me.
Silêncios.
Ruem
sonhos, num rorejar farto pelo salso mar em azul,
e,
mais
longe ainda,
algumas
improváveis tempestades desabrigam-se pelo branco das janelas onde
se pintam as tuas orquídeas, desabriga-me apenas por esta noite,
deixa-me
ser o verso que treme.
Pudesse
eu ser.
“...
senti-lo-há o Nilo
Pode-lo-há
o Indo ver, e o Gange ouvi-lo”
(Camões
“Os Lusíadas” canto XXXIII)
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