,décima
hora
(I)
,da
terra em pó , calcada,
profetas
anunciam cataclismos, surdos,
repetitivos,
cansam-me,
e
tudo em redor ensurdece, ensurdece-me,
esvazia-se
a ubiquidade,
ficam
ecos suspensos sem norte pelo mar que reaparece das névoas,
encabrestam-se
as ondulações,
tapando
o areal, tapando as marcas,
descreve-me
o sul, alivia-me do outono despetalado, iníquo.
,foge
Latona
(II)
[…
pariste na ilha de Delos fugindo da Píton],
foge
da ira,
como
o anoitecer em claridade foge do fugitivo dia de mim.
,das
matinas
(III)
,regresso-me
ao mar envolto por procelas,
náfegos,
mitos,
olvido-me
das horas, nesta indesmedida saudade
que
me é longínqua de tão perto,
descreve-me
a vida, alivia-me o cendrado tártaro
que
persiste,
precipita-me
pelo cume do precipício que o horizonte esconde,
que
os adamastores protegem,
mas
antes,
deixa-me
adormecer num sonho teu.
[,as
orquídeas renasceram em flor, finalmente, fatalmente.]
notas:
à
décima hora – 4 da tarde
Latona
(na mitologia romana), ou Leto (na mitologia grega),
era uma filha de Febe e Céos e mãe de Febo (Apolo) e de Diana
(Àrtemis). Era a deusa do anoitecer.
Quando
engravidou dos dois, cujo pai era Júpiter (Zeus), teve que fugir da
ira da ciumenta deusa suprema Juno (Hera), que tinha pedido que Gaia
não cedesse lugar na terra para que a deusa pudesse dar à luz seus
filhos. Seus filhos nasceram na ilha Delos após fugir da serpente
Píton, que Febo mataria mais tarde. Latona era a deusa da noite
clara.
matinas
– madrugada período entre a meia-noite e o nascer do sol
Textos
de Francisco Duarte
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