domingo, 15 de abril de 2012

dos ventos que são alisios

MAURITANIA—Sunrise between Tidjikja and Tichit,1999
©Raymond Depardon/ Magnum Photos

I

como detesto números
mesmo que sejam perfeitos, primos;

o luar esqueçe-os,
nem as estrelas querem ser contadas,
encantadas,
e

entre o vinho

que escorre de uma caneca com um rei de copas
para a boca,

e o fim da noite,

resta-me contar as horas
que fiquei em silêncio

na sombra quieta da parede. Volta,
descansa nos meus braços.


II

dos ventos alisios

que não provocam chuva no deserto
fica-me a visão perdida,

infinda,
que me atrai ao precipicio,
abro os braços,


reflexo de quem não aprendeu
a
voar,

regresso-me ao mar,
regresso-me a mim, despedaço-me.


Se os ventos alisios regressarem encerra-me no casulo onde escondes as abelhas em flor.


...
([do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti])

1 comentário:

  1. e que ninho quererias tu dos meus braços se nem sabes como eles são?
    seriam fortes se soubessem da tua ternura,
    do teu desejo de voar,
    de ser feliz
    mas como
    se não sei...

    curvas-me as palavras e nos números que também detesto, primos ou não, recolhe-se a S ensibilidade temendo mais este mar de impossibilidade

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