sexta-feira, 13 de abril de 2012

[Ensina-me sobre os segredos do olhar de quem eu não esqueci]

ALPES-DE-HAUTE-PROVENCE, France,1985 ©Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos

Ensina-me e troca-me o olhar
enquanto tropeço,
afinal a terra parou,

o mar, destapa-se, esperguiça-se nesse algures,
esquece o horizonte
e fala-me dos silêncios,

dos silêncios.

E quantos mais mil anos de memórias terei de me relembrar para voltar nesse dia em preia-mar violenta?

Fala-me do amar, e navega-me até
onde a sede seca os cristais de sal
que o mar deixou esquecidos numa praia deserta,

navega-me até onde os pássaros
imitaram baleias nas migrações,
e voaram,
ou vogaram, tanto me faz.

Ensina-me e troca-me de novo o olhar,
mesmo que a terra se suspenda, se vire e revire,
ou adormeça,

que soprem ventos em remoinhos,
que se enfunem velas esburacadas,
enquanto empurro sem força algumas rochas que o mar esconde,
que me afundam,

que me obrigam a ficar,
que reste o branco das orquídeas que um dia te ofereci.

Ensina-me a regressar mesmo que a água encharque o barco,
e que as borboletas que morrem a voar
sejam enterrados no lado azul do céu.

Ensina-me a silenciar
todos os silêncios que me acordam todos os pesadelos.

Ensina-me sobre os segredos do olhar
de quem eu não esqueci.
Ensina-me.



1 comentário:

  1. respondo-te
    se me explicares por que razão as tuas palavras me fazem sempre chorar...

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