terça-feira, 17 de abril de 2012

em flor

Chinguetti,Mauritania—dunas areia,1999©Raymond Depardon/Magnum Photos


...
I


não sei se calarei a minha voz ou o eco,
cego o ego,
pergunto-me se.

Se me envolveste mesmo no sonho
de ontem,
se o respirar era o teu?

Das flores do azevinho que deixaste
esquecidas pelo inverno passado,

ressuscitaram,
enraizadas nos corais amarelos que plantei no soalho de madeira

onde adormecíamos pela aurora.

II

em flor
da flor branca da orquidea

que o vento transporta em pétala,
migram ao longe
rios até ao mar,

cansam-se as tágides do tufão
que as empurra

como barcos à deriva perto de bojadores sem farol.

Avisa-me quando a solidão chegar ao poema,
se a ode entretanto se afundar

liberta as borboletas azuis
que ficaram aprisionadas pelo mar,

e procura-me no areal que aquela noite

deixou a descoberto,
descobre-nos.




...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]





1 comentário:

  1. parte.
    vai à procura onde me deixei que tenho uma porta aberta.

    sei de mares, de caminhos de palavras, que deixei a terra e o rio e fui descansar da tormenta onde o teu olhar seja leito das minhas palavras.
    não sou farol, oásis ou cais. sou só eu nos mares de mim.

    AbraçoT no S ilêncio onde desperto

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