segunda-feira, 2 de abril de 2012

[e quando soprares as minhas cinzas]

SPITSBERGEN, Norway , 2006 © Gueorgui Pinkhassov / Magnum Photos

e quando soprares as minhas cinzas
que te deixo embrulhadas num poema,
peço-te que o faças na ilha dos corais que plantei.

Do poema:
lança os restos de mim, alimentando o mar
que sempre fui,
que se afundem no areal,
que flutuem mais longe que o horizonte,
afinal,
sempre o quis conhecer”;
e quando abrires as gavetas,
guarda o lirio seco que sempre me acompanhou,
ou enterra-o no meio das searas,
talvez ele ressuscite como flor de imperatriz.

Do lírio:
do lírio que renasce depois de morto,
floriu fora do tempo que o secou,
adormeceu por entre folhas que um dia
foram alvas, como o clarão da aurora,
foi silêncio, sim,
foi o silêncio do que escrevi”;

pergunto-me porque te escrevo sobre a morte,
hoje,
porque não, se ela é tão presente,
como se quer ausente,

e no fumo do nevoeiro
em que se esconde esta tempestade,
desfazem-se as saudades, o amar,
ficam as primaveras que floriram antes do tempo,
ficam os longinquos horizontes que jamais se afundarão,
fica a ilha de corais que um dia plantei.



[O lírio seco que renasça nas cinzas que acompanhe os versos que jamais sairão das gavetas fechadas no tempo ou que enfeite as searas despenteadas pelo vento].

Sossega-me.



3 comentários:

  1. [sim, a morte
    presente. ponto.

    mas hoje não
    adia-a
    e às cinzas
    e a tua nostalgia]

    rumo à tua ilha
    busco os corais
    e neles permanecerei até que me encontres
    é de ti a vida dos versos
    da Palavra
    do Sentir
    não quero perder tudo isso
    não quero perder o S orriso

    recuso as cinzas
    e rumo a esse coral
    espreguiço.m num qualquer
    enquanto espero a brisa
    da primavera
    do teu olhar
    de mais um poema

    lírio
    orquídea

    nascidos na tua janela

    Num Abraço com Beijo na ponta

    ResponderEliminar
  2. não respondi mas deixei um lírio... chamei-lhe S orriso, o que deixaste lá, nesta ilha de Paz, onde quer que S ejas Palavra.

    Obrigada

    AbraçoT

    ResponderEliminar
  3. Um poema que transcende todo o meu sentir.
    Embora esteja vestido com os mais belos versos... sinto- te em plena melâncolia.

    Se me permites, vou levar o poema para o meu Abrigo Poético.

    Sempre tua amiga

    Maria

    ResponderEliminar