Évora,
Portugal, 1999,
Mark
Power / Magnum Photos
Penso-te
sempre, no sorriso, no silêncio
mesmo
que representado por uma cruz,
pela
madeira que range,
não,
não sussurra ou murmura, range,
disseste-me,
e
que dizer das saudades, perguntaste-me,
jamais
te soube responder,
como
se a cor do vinho inundasse a cor dos morangos,
e
nesta libertação dos medos, das tristezas,
das
mágoas,
restasse
a certeza de que o sol renasceria,
porque
não haveria de ressuscitar amanhã
inundando
um outro dia[?], e agradeces,
agradeces...
Olho
a vida em volta que me cansa,
não,
não se repete ou se transforma
nos
estilhaços suaves das rajadas de vento,
ou
nas brisas da primavera em flor,
[ah...
e como as amendoeiras ainda resistem
em
silêncio, sim, repeti o silêncio que não queria mais],
e
naquelas labaredas que já não me açoitam
mais,
meço
a distância até ao horizonte como se alguma fuga me respondesse aos
dias enevoados sem caminho, me respondesse às perguntas que ficaram
nos vulcões adormecidos,
adormecidos
até um outro dia, e agradeces,
agradeces...
Ficam
as saudades que inundarão sempre o mar,
que
o aprisionarão,
encurtando-lhe
as margens com novos bojadores,
com
outros promontórios, mas jamais conseguirão suster
o
canto das baleias,
e
agradeço, e agradeço-te sempre,
o
dia, a noite, o mar, mesmo o silêncio.
[Silêncio,
que repito novamente, silenciando-me nos areais que os mares de
inverno deixaram para trás, jamais os esquecendo].
Iluminar-se-ão
as tempestades que resistem.
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