domingo, 8 de abril de 2012

[...e como as amendoeiras ainda resistem]

Évora, Portugal, 1999, Mark Power / Magnum Photos

Penso-te sempre, no sorriso, no silêncio
mesmo que representado por uma cruz,
pela madeira que range,
não, não sussurra ou murmura, range,
disseste-me,

e que dizer das saudades, perguntaste-me,
jamais te soube responder,

como se a cor do vinho inundasse a cor dos morangos,
e nesta libertação dos medos, das tristezas,
das mágoas,
restasse a certeza de que o sol renasceria,
porque não haveria de ressuscitar amanhã

inundando um outro dia[?], e agradeces,
agradeces...

Olho a vida em volta que me cansa,
não, não se repete ou se transforma
nos estilhaços suaves das rajadas de vento,
ou nas brisas da primavera em flor,

[ah... e como as amendoeiras ainda resistem
em silêncio, sim, repeti o silêncio que não queria mais],

e naquelas labaredas que já não me açoitam
mais,
meço a distância até ao horizonte como se alguma fuga me respondesse aos dias enevoados sem caminho, me respondesse às perguntas que ficaram nos vulcões adormecidos,

adormecidos até um outro dia, e agradeces,
agradeces...

Ficam as saudades que inundarão sempre o mar,
que o aprisionarão,
encurtando-lhe as margens com novos bojadores,
com outros promontórios, mas jamais conseguirão suster
o canto das baleias,

e agradeço, e agradeço-te sempre,

o dia, a noite, o mar, mesmo o silêncio.

[Silêncio, que repito novamente, silenciando-me nos areais que os mares de inverno deixaram para trás, jamais os esquecendo].

Iluminar-se-ão as tempestades que resistem.


Sem comentários:

Enviar um comentário