domingo, 4 de março de 2012

[abrigam-me as cores]

Membros do Balé Arizona em "Play", do diretor artístico dinamarquês Ib Andersen, em Phoenix, espetáculo que trata da própria dança.( Foto de Rosalie O'Connor via The New York Times)

e quando me esqueço de fechar
o olhar,
abrigam-me as cores que se
misturam,
que me destecem,
e das palavras mais simples,
nascem as searas onduladas,
não as descrevo, apenas as vejo,
e olho-me no velho espelho,
desbotado, descolorido,
vendo a parede um dia branca,
sem descrever as sombras fixas,
apenas as olho.
Barcos que encalham nos areais
submersos, a baixa-mar assim
quer,
encalham gaivotas na proa,
estáticas, mesmo com o vento
contra, sentam-se os homens
cerzindo as redes descoloridas,
esperas sem grito, sem voz,
sem palavras, sem limite.
Espero-me com os sapatos
calçados, e a mala feita,
quem sabe se terei de partir
novamente,
saberei eu partir, novamente?
[Saberei eu chegar, novamente?]
A preia-mar que chega de manso,
abana os barcos encalhados,
das gaivotas que partiram,
restaram algumas penas,
ainda restei eu,
fecho o olhar então.


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