terça-feira, 27 de março de 2012

[que eu sinta]

        Praia Ribeira das Ilhas, Ericeira, Portugal. Foto Pedro Cunha

nas fotografias que o tempo amareleceu,
nasciam sóis do teu olhar, plural que repito
quando lhes toco, que sejam sóis.

Se te sinto ou não, já não sei,
relembra-me dos gritos nas noites em que a pele se rasgava,
relembra-mos,
que eu sinta, que eu seja.

Hoje não me apetecia escrever sequer,
hoje queriam-se as memórias e as saudades adormecidas,
queria-se o mar coberto por girassóis,
queria-se o olhar no infinitivo do verbo, mesmo impessoal,
e que relembrar fosse proibido por um dia que fosse,
pudessem os sossegos
tocar o céu, cobri-lo dos virgens areais desconhecidos,

queria um novo caminho, não um outro,
que eu seja mesmo assim.

Que sejamos os reflexos do vidro onde riamos,
onde amávamos, onde declamavas as odes
que não sabias cantar,

e repetias os múrmurios dos nossos corpos.

Nasciam sóis do teu olhar,
que sejam os sóis que sempre me iluminaram nas noites mais escuras,
quando todas as minhas sombras,
resolviam acordar.

Tão longe estou de ser, tão perto do mar contínuo estou,
os sóis [?],
esses mantêm-se ainda no teu olhar,
nas fotografias que o tempo amareleceu.



1 comentário:

  1. Belo, Muito!

    não consigo escrever depois destas palavras. todos tivemos S audades assim, de um Tempo, d0 Tempo...

    Ribeira d'Ilhas... um dos meus países de S onho.
    sonha-se, vive-se e fica-se lá se pudermos.

    hoje digo eu Obrigada, Muito, por este pedaço.

    S orriso

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