segunda-feira, 12 de março de 2012

[não te esqueças das trompetas]

Cinzas do vulcão Puyehue no sul do Chile, 2011, Foto: EFE/Ian Salas
 
que os pássaros que morrem em voo
sejam cobertos pelo céu,
porque as raízes das flores
já encontraram descansos.
Que soem as trompetas,
que se entreabra o nevoeiro, um pouco,
que me deixe ver azuis infinitos
onde se escondem cometas e astros,
que os rios nasçam do mar,
e que o cume das montanhas
seja habitado pelas árvores
centenárias, onduladas pela brisa
da tarde.
Que este gelo escondido, profundo,
se derreta, desencalhando os barcos
afundados, e que todas as nossas
histórias,
voguem sem amarras,
que as ondas do mar se ondeiem
nas terras secas, nos desertos
da solidão sem fim.

Das solidões enforcadas
em fossas sem profundidade,
infinitas, escrevo,
como se da saudade nascessem
mais saudades, parisse
os ventos do norte,
parisse todos os furacões
momentaneos,
que descansem em fim,
porque as raízes das flores
já encontraram descansos.

Das felicidades, que o céu
e o mar as cubram no regresso,
como as aves que descansam
naquelas nuvens,
como as baleias que dançam
perto das ilhas desertas.
Pinta então o quadro,
pinta-o de cores todas,
pinta-o,
mas,
não te esqueças das trompetas,
[os anjos, deixa-os de fora, ignora-os],
que renasçam os dias de todos os dias,
que renasça o mar de todos os mares,
renasceremos então, uma última vez.



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