quinta-feira, 28 de junho de 2012

[ … da cor a cereja que deixaste

Árvore do cerrado brasileiro, Jaime Dantas

da cor a cereja que deixaste,
pelas alvas paredes do quarto

abriu-se a janela a mar,
e nestas divisões desertas que o meu corpo encerra,
fulgiu, tremelicando, a estrela da manhã.

Cauto seja o vento que entra repentino,
trazendo os corais e as madreperolas que sobraram
um dia,

como cada ilusão, como cada sonho
que a insónia escondeu.

Resiste o gorjear da cotovia,
que ouço ao longe,
resiste o mar que sei ao alcançe da mão,

a cor a cereja que deixaste,
ainda hoje me sorri pela noite
quando a tempestade abana os pilares.

Das manhãs, levarei os pássaros que entram no crepúsculo pela janela aberta a mar;
das manhãs, levarei as núvens onde eles adormecem que deixastes espalhadas por todos os cantos meus;

[resistir-me-ei à noite].




[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]


1 comentário:

  1. Enquanto leio, fico a pensar do quanto levo nas vezes que aqui venho...as mãos nunca saem "abanando", embora a alma saia leve, alvissareira farfalhando pela janela...
    Abraços, estimado Poeta

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