segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

,as orquídeas renasceram em flor



,décima hora

(I)

,da terra em pó , calcada,
profetas anunciam cataclismos, surdos,
repetitivos, cansam-me,
e tudo em redor ensurdece, ensurdece-me,

esvazia-se a ubiquidade,
ficam ecos suspensos sem norte pelo mar que reaparece das névoas,

encabrestam-se as ondulações,
tapando o areal, tapando as marcas,

descreve-me o sul, alivia-me do outono despetalado, iníquo.


,foge Latona

(II)

[… pariste na ilha de Delos fugindo da Píton],

foge da ira,
como o anoitecer em claridade foge do fugitivo dia de mim.


,das matinas

(III)

,regresso-me ao mar envolto por procelas,
náfegos, mitos,

olvido-me das horas, nesta indesmedida saudade
que me é longínqua de tão perto,

descreve-me a vida, alivia-me o cendrado tártaro
que persiste,

precipita-me pelo cume do precipício que o horizonte esconde,
que os adamastores protegem,

mas antes,

deixa-me adormecer num sonho teu.

[,as orquídeas renasceram em flor, finalmente, fatalmente.]






notas:


à décima hora – 4 da tarde

Latona (na mitologia romana), ou Leto (na mitologia grega), era uma filha de Febe e Céos e mãe de Febo (Apolo) e de Diana (Àrtemis). Era a deusa do anoitecer.
Quando engravidou dos dois, cujo pai era Júpiter (Zeus), teve que fugir da ira da ciumenta deusa suprema Juno (Hera), que tinha pedido que Gaia não cedesse lugar na terra para que a deusa pudesse dar à luz seus filhos. Seus filhos nasceram na ilha Delos após fugir da serpente Píton, que Febo mataria mais tarde. Latona era a deusa da noite clara.
matinas – madrugada período entre a meia-noite e o nascer do sol

Textos de Francisco Duarte


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