segunda-feira, 12 de agosto de 2013

poder-me-ei alhear das palavras por um dia

Laguardia Asensio Luis

...
poder-me-ei alhear das palavras por um dia,
do mar que não existe de tanto areal
que as dunas escondem,

restarão medusas, conchas, corais desalinhados,
ou aves que migram pelo verão, procurando novos pousos.

Abrir-se-ão janelas pelo sopro do cavalo do vento,
retendo caçadores de baleias agonizando pelo vazio
de redemoinhos,
e os rios, furiosos, engolirão carvalhos arrancados pela raiz,
como um bocejo,
nesse mesmo dia.

Falam-me dos lobos do mar, dos nenúfares que ficaram para trás,
dos silêncios que os ecos repetem sem parar, desses órfãos de ninguém
que acompanham as viagens intermináveis dos sonhos,
desse outro escondido entre as escarpas violentas das noites,
das procelas maiores que furacões,
nomes desfigurados.

Um dia poder-me-ia esvaziar de mim,
dos poemas rasgadas sem mar, sem barcos
no horizonte, sem estrelas anunciadores de terra firme,

das margens opressoras,
e, mesmo que tudo não passasse de imagens vãs, sem nexo,
nomes esquecidos, faces irreconhecíveis,
convulsões,

dir-te-ia das esperas pelo nascer da alvorada,

apenas te esperando.

Que apenas assim seja.



3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. ...e como maestro dileto executas mais uma esplêndida sinfonia!
    ...e como se pudesse navegar no "cavalo vento", solta, liberta, sem direção...com a feliz certeza de saber que todos os rios, sempre me levarão ao mar!
    Lindo! Meus cumprimentos mestre das letras!
    V.

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  3. Ah... Valéria, eu é que te agradeço as palavras. Beijo

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