sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

[de onde vens alma breve?]

Wilie Kessel Photography

de onde vens alma breve?
donde vindes filho meu?

do alto mar onde nasceste sem relâmpagos
iluminando alguma aurora mais escura

ou

da masturbação infame das ondas em teus olhos cansados?
[tanta puta de interrogação sem destino]

tanto desespero sonâmbulo
subcutâneo

sem hora certa
amor mal soletrado que se arrasta
por mais um dia:
igual
sem sorriso.

O medo do princípio e fim.

Não consigo adiar o grito alumbrado
nem deixar de sentir a árvore florescendo no silêncio noite
das falas que se conhecem livres
afoitas

não
não quero mais

o abstrato da poesia sem sentido sentimento
dor saudade
[que se danem o amar e o respirar]
a redução do tempo evidente
o crepúsculo que se esconde

rápido.

diante de mim o mar eleva-se abrupto
concreto
fúria

para onde me levas alma contínua?

Talvez já não queira ser.



(Ricardo Pocinho – O Transversal)


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