segunda-feira, 9 de abril de 2012

[um dia quebrarei alguns ventos norte]

Cataratas do Niagara,2005 ©Alec Soth/ Magnum Photos

Um dia quebrarei alguns ventos norte,
silencia-me,
sim, silencia-me,
enquanto a alma se enfuna e voga
para além do mar, porque não afora
como se as margens não se avistassem [?],
e os faróis se desligassem pela passagem
de um cometa qualquer, ilumina-me a rota,

e mesmo que alguns barcos não resistam
a tantos remares,
repito-te nos gestos, sim,
diferenciando-os depois da pele rasgada,

trespassa-me com as mãos, que
um dia,
se enovelaram no meu corpo.

E não te escrevo sobre o amar,
sim, do amar que se encabrita
e extenua, debilita-me e foge,
sim, que tudo transforma de saudades,
até estes ventos norte que um dia quebrarei,
um dia serei.

E não te descrevo o mar,
sim, do mar que me adormeçe alguns nevoeiros,
que me reflete de dia,
mesmo imagens distorçidas nos oásis de nenúfares
que ficam no meio dos sargaços.

Querem-se os corais em cor,
encaminho-os pelas palavras que o silêncio escolheu sem compreender como são belos,
como se a beleza não me silenciasse sempre,

como se te renunciasse.

Acorda-me, silencia-me, enquanto os teus lábios procuram os meus, respira-me nos ventos norte que um dia quebrarei,
e serei um sopro,
e serei um gigante.




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