domingo, 29 de abril de 2012

saudade

Monsoon flora, India 1983 ©Steve McCurry/ Magnum Photos

I

desaguarei não como um rio
que jamais termina [...] nem pensamento,
como um mar, sim,
desaguarei como esse mar,

um desaguar repentino, violento,
[no teu colo],

e mesmo que não me sossegue
abrevia a distância em mim de nós.
Soltam-se as missangas que enfeitam os pulsos outrora cortados,
cicatrizes que a pele guarda,

ancoro-me num areal desconhecido.

II

saudade

não como o destino das viagens ou da pele que seca,
senta-te bem perto, lê-me o fado nas linhas da mão,

não ligues à linha da vida, fala-me do amanhã,
de algum ou outro sonho impossível, possível,

engana-me com o amar, jamais com o mar,
e no compasso dos pontos cardeais já apagados,
delimita as latitudes que as longitudes fiquem.

Horizontes sem as cataratas que imaginei,
sempre o saberei,

que os ventos despenteiam o mar em espuma esqueço-me,
o olhar fica-me sempre aprisionado

na dança das baleias

que ladeiam o barco que range.

Soltam-se as velas.






...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]




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