quinta-feira, 3 de maio de 2012

mar

                       Orca branca adulta - Ferop/AFP


I

vogam alguns pedaços de madeira
flutuam sem rumo,
nem areal à vista,
nem ilha no horizonte perdido.

Sol que queima a voz seca, gretam os lábios
gastos de tantas palavras sem verbo,

que no principio era-o, sim, fora-o,
e o passado assume-se, reassume-se outras vezes,
adiam-se alguns descansos,

esqueço-me de pensar nos ventos tão perto de mim,
rio-me de um

II

mar que
recolheu todas as lágrimas, evaporou algumas
até paraísos distantes, muito distantes,
inexistentes como as preces,

para que serviram as lágrimas?

e mesmo de joelhos os homens perdoados dos nadas
[como se existissem]
ensurdecem o sonho que teima em fugir,
[não, não o deixo fugir hoje...]

ah...o sonho de uma noite que não tenha fim,
aquela onde fechei os olhos, sem temor,

e senti a pele, a tua pele na minha,
e navegaste-em sem portos, sem abrigos,
sem descansos, sem esquecimento, sem despedida,
sem tempo.

Procurarei por quem eu perdi,
essa voz silenciosa que me chama,

afinal, jamais me esqueci de te esquecer.








...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]


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