quinta-feira, 24 de maio de 2012

[… satura-me o sonambulismo com que a noite se veste



satura-me o sonambulismo com que a noite se veste
e mesmo que se disfarçe no canto de uma sereia,

mantem-me o olhar distante, não me afaga de mar,

e tudo acontece sem inicio, repentinamente
sem cor, sem tempo delimitado.

Desilumina-se o céu, e o cheiro da terra
é moldado pelas mãos no barro, mãos sem sina,
sem ternura, mãos de pedra,
e da dor pergunto-me;
não a sentirei mesmo que me atravesse o peito

e se crave na mais profunda saudade?

Dá-me a chave da porta por onde a noite entrou,
desferrolha-a mesmo,

racha-a de vez, relembra-me como é
a luz do dia em sol,

e, enquanto o céu azul se inunda de mar em cor,
repara nas núvens, velas enfunadas,
soltas,

vogando sem pressa, sem pressas,
esperando, que o destino aproe a sotavento.

Queimam-se as imagens de tantas as miragens nenhures,
nas recusas a este crepúsculo, regurgito da luz frouxa,

impludo-me então,

mais uma vez,

[que a última seja].





[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]

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